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domingo, 18 de agosto de 2013

A importância do vocabulário - Por que seu filho não entende o que lê?


A importância do vocabulário - Por que seu filho não entende o que lê?


Quando falamos em uma criança com dificuldades de interpretação de texto, pensamos em inúmeras razões para o problema. Muitas vezes as crianças são levadas a inúmeros especialistas, tomam medicações por suspeita de déficit de atenção, são rotuladas de incapazes ou preguiçosas, mas nunca ouvi ninguém dizer que uma criança não entende o que lê por não ter vocabulário suficiente. Você já ouviu? Só comecei a me preocupar com o vocabulário quando minha filha mais velha entrou em uma escola bilingue e percebi que, apesar de ela possuir uma fluência de leitura excelente para a idade e de compreender textos complexos em português, ela muitas vezes não entendia textos simples em inglês. Observando de perto, vi que o problema era a falta de VOCABULÁRIO. 
Comecei a pesquisar sobre o impacto do vocabulário de uma criança nos resultados que ela obtinha em leitura e me surpreendi com o volume de pesquisas já realizadas nessa área, tanto demonstrando o quanto um vocabulário limitado dificulta a compreensão de texto quanto mostrando o que funciona e o que não funciona quando se objetiva ampliar o vocabulário de uma criança. 
As pesquisas sugerem que o vocabulário de uma pessoa tem importância enorme em seu desenvolvimento, especialmente quando se trata de leitura. Essas pesquisas indicam claramente que as crianças com maiores vocabulários têm melhor desempenho escolar em geral (todas a matérias) além de, como seria de se esperar, apresentarem melhores resultados em leitura e compreensão de texto. O vocabulário aos dois anos está diretamente relacionado ao aproveitamento escolar no segundo grau e o vocabulário aos sete é um dos maiores preditores de quanto aquela pessoa vai ganhar na vida adulta. Os estudos recentes mostram, inclusive, que pelo menos 70% das crianças com dificuldade de "interpretação de texto"apresentam, na verdade, um problema de vocabulário. 
Felizmente, o vocabulário de uma criança não é pré-estabelecido. Os pais e a escolar têm um papel fundamental no crescimento do vocabulário de sua criança.
Estudos feitos principalmente nos Estados Unidos (onde, diga-se de passagem, a desigualdade sócio-econômica é muito menor que no Brasil), mostraram que as crianças já entram na escolar, aos 3 anos, com uma diferença enorme de vocabulário. Esse dado motivou a realização de pesquisas que avaliaram a quantidade e qualidade do vocabulário a que uma criança era exposta em casa até os 3 anos de vida (antes de entrar na escola). Os resultados foram alarmantes.

Em uma hora típica, uma criança escuta:
Family Status
Quantidade de palavras
Classes D-E
616 palavras
Classe C
1.251 palavras
Classes A e B
2.153 palavras


Vejam o efeito disso com o tempo:
Family Status
Palavras ouvidas em uma semana
Palavras em um ano
Classes D-E
62.000
3 milhões
Classe C
125.000
6 milhões
Classes A-B
215.000
11 milhões

Até aí tudo bem… pois esperamos que a partir do momento em que todas as crianças entrem na escola haverá uma maior padronização na quantidade e qualidade do vocabulário a que eles são expostas e, assim, essa diferença tende a diminuir…certo?! Errado! As pesquisas mostrarm que crianças que chegam à pré escola com um menor vocabulário vão também aprender menos. Enquanto aquelas que chegaram com um bom vocabulário aprendem em media 8 novas palavras por dia, as que já chegaram com um vocabulário pobre aprenderão em media 2 palavras novas  ao dia.

Entre o primeiro e o terceiro ano, a estimativa é que os estudantes de classes sócio-econômicas inferiores aprendam cerca de 3000 palavras por ano, enquanto os de classe media aprendem 5000 palavras ao ano.

Sabendo que o vocabulário dobra entre o terceiro e o sétimo ano, esperamos que a diferença também dobre nesse período.

Mas o que podemos fazer?

Apresento aqui algumas maneiras (comprovadas cientificamente) de ampliar o vocabulário das crianças.

1.    Leia para eles. Estudos indicam que as crianças aprendem o vocabulário dos livros lidos em voz alta para eles(e.g., Elley, 1989). Melhor que isso, é importante ler outros materiais como placas, revistas e jornais. As pesquisas mostram claramente que os textos ditos informativos contêm um diversidade muito maior de palavras (Duke, 2003; Pappas, 1991) Isso também é importante porque os pais e professors tendem a chamar atenção para o significado das palavras quando leem textos informativos, o que facilita a aprendizagem. (Lennox, 1995; Pellegrini, Perlmutter, Galda, and Brody, 1990).

2.    Estimule que eles leiam: Crianças também adquirem vocabulário com a leitura independente(e.g., Nagy, Herman, and Anderson, 1985). As pesquisas sugerem que 5-15% de todas as palavras que usamos foram aprendidas com leitura. Crianças que lêem mais têm uma maior vocabulário(Stahl, 1998).

A Variação na quantidade de leitura independente afeta significativamente o crescimento do vocabulário.
Pesquisas mostram que as crianças que lêem ao menos 10 minutos por dia for a do ambiente escolar apresentam taxas de crescimento do vocabulário significativamente maior entre o Segundo e o quinto ano que aquelas crianças que não o fazem.
(Anderson & Nagy, 1992, see References)
Percentil
minutes por dia
palavras lidas por ano
livros
Texto
livros
Texto
98
65.0
67.3
4,358,000
4,733,000
90
21.2
33.4
1,823,000
2,357,000
80
14.2
24.6
1,146,000
1,697,000
70
9.6
16.9
622,000
1,168,000
60
6.5
13.1
432,000
722,000
50
4.6
9.2
282,000
601,000
40
3.2
6.2
200,000
421,000
30
1.8
4.3
106,000
251,000
20
0.7
2.4
21,000
134,000
10
0.1
1.0
8,000
51,000
2
0
0
0
8,000



3.    Inclua a criança em conversas com vocabulário rico. Elas também aprendem muito conversando, principalmente ouvindo e participando de conversas de alto nível. Estudos mostram que crianças cujos pais usam mais palavras “raras”na mesa de jantar têm um maior vocabulário e melhor aproveitamento na leitura.

4.  Realize, em casa, leituras em conjunto (de livros mais complexos do que os que a criança seria capaz de ler e compreender sozinha), assim como atividades interativas (debates sobre diversos temas atuais ou do interesse dos seus filhos) Estimule o aprendizado de novas palavrasREADINGLINE SUPPORT
5.  Estimule o aprendizado de novas palavra. As crianças devem ser estimuladas a reconhecer, em um texto ou conversa, aquelas palavras de significado desconhecido e inferir ou perguntar/buscar no dicionário o seu significado.
6.    Ensine novas palavras: Sim, é importante ensinar novas palavras. O problema é que é inviável ensinar formalmente todo o vocabulário necessário para o aprendizado de uma língua. O recomendado é ensinar então aquelas palavras que aparecem com uma frequência razoável em textos e que por isso são importantes para a compreensão dos mesmos, mas não são tão simples ou comuns a ponto de serem aprendidas naturalmente. Em ingles existe uma lista com essas palavras. Vou colocar aqui para que vocês possam ter uma idéia de quais seriam essas palavras.
     
transformar
provável
improvável
além de 
suficiente
fato
suposição
opinião
causa
consequência
exceto
através
permitido
proibido
apesar de
classifique
comum
comunidade
considere
exatamente
exemplo
geralmente
objetivo
método
aceitar
concordar
discordar
área
superfície
volume
autoridade
benefício
qualidades
compare
definição
efeito
elemento
localização
oposto
paralelo
horizontal
vertical
resumo
padrão
fornecem
seguro
diversos
contraste
categoria
demonstração





7.  Ensine palavras relacionadas em um contexto. Por exemplo: vc pode ensinar em conjunto borboleta, mosquito, mosca, formiga, abelha, etc, aproveitando para explicar o que é inseto, exoesqueleto e metamorfose. Isso ajuda a organizer o conhecimento, torna o aprendizado mais interessante e a memorização mais fácil.
8.    Exponha a criança ao vocabulário novo muitas vezes ( o ideal é que sejam pelo menos três) e em múltiplos contextos (le rem uma história, fazer uma frase com a palavra, cantar uma música, ver um filme, etc.

Espero que este artigo tenha sido útil. Para quem se interessar em ler mais sobre o assunto, existem inúmeros artigos disponíveis on line. Basta buscar "vocabulary gap"

domingo, 11 de agosto de 2013

Alfebetização pelo método Fônico - A Casinha Feliz

Quando se fala sobre alfabetização, sempre surge a discussão sobre o melhor método. Os argumentos, na teoria, parecem fazer sentido...com boa argumentação, é possível convencer qualquer pessoa que não entenda do assunto sobre a superioridade de um ou outro método (é o que fazem as escolas). No entanto, toda a pesquisa científica sobre alfabetização nos últimos 80 anos, realizadas em várias populações, mostrou claramente a superioridade do método fônico. E é por isso que o governo de países que são destaque em alfabetização recomendam o método. Não vou discutir as razões políticas/ideológicas para que o mesmo não seja adotado no Brasil. Minha intenção é apenas divulgar essa informação e, ao mesmo tempo, apresentar a vocês um material que considero fantástico para a aplicação do método.
Antes que alguém pergunte, eu não tenho nenhum interesse econômico em divulga-lo. (Bem que tentei entrar em contato com uma das autoras para comprar os direitos autorais, mas não me responderam...rss!) Conheci o método porque fui alfabetizada por ele em 1986, em Belo Horizonte, no Instituto educacional Rouxinol, pela "tia Ivone"(Que saudades!), pq usei com meus filhos para "acelerar"os resultados obtidos com o método Doman (principalmente em relação à escrita e leitura de palavras inéditas) e para tornar incrivelmente divertidas as lições de alfabetização.
DIVERTIDAS? Exatamente! Ouvindo histórias e brincando com bonecos e fantoches, as crianças aprendem (e rapidamente) o o som das letras (correspondência fonema-grafema) e das sílabas (ou "abraços"como são chamadas na casinha feliz).
Recomendo fortemente como um complemento ao método Doman (para crianças pequenas, que aprendem melhor com palavras inteiras por não terem desenvolvido ainda a lateralidade) ou até exclusivamente (para aquelas com 3 anos ou mais).

A história se passa em uma casinha...vou colocar aqui alguns trechos do conto para vocês conhecerem melhor e entenderem o que estou falando...

Era uma vez uma casinha muito bonita, bem no meio de um quintal cheio de bichos e árvores...
Essa casinha era chamada de Casinha Feliz.

Na casinha Feliz moravam: papai, mamãe, vovó, vovô, Vavá, Vevé, Vivi e nenem...



A carruagem parou bem no portão da casinha e logo saltaram cinco amiguinhos. Cada um mais engraçado que o outro. Eram vermelhinhos e falavam alto. O primeiro foi logo dizendo:

Redondo como uma bola
Tenho um gancho de espetar
Para dizer o meu nome
Abra a boca bem aberta
Para o gancho poder passar: aaaaaaa

(segue apresentação dos outros amiguinhos: e, i, o)

De repente se ouviu um mugido de boi...e outro amiguinho de aproximou:

O boizinho quando muge
Está por mim a chamar
Quero ver quem é que pode
O meu nome adivinhar: uuuuu

Este amiguinho, o u , morava na cabeça de um boizinho manso. Foi assim: No tempo antigo, tempo em que os bichos falavam, o boizinho foi para a escola. Ele queria aprender a ler. Mas acabou só aprendendo uma letra: u. Por isto ele botou o u na cabeça e saiu por aí. De vez em quando ele grita bem alto: uuuuuu!

....Vevé e Vivi estavam passando o dedinho no retrato dos amiguinhos quando, de repente, eles voltaram...no fim todos iam se abraçando e dizendo seus nomes:
o a abraçava o i: ai
o e abraçava o u: eu
....







Um dia, estavam todos brincando de roda, quando a vovó escutou os amiguinhos cantando assim:
Somos só cinco amiguinhos
Que se querem muito bem
Podemos falar sozinhos
Sem precisar de ninguém

Audante para falar
Tem que se encostar em nós
Porque ajudante sozinho
Coitadinho não tem voz

... as meninas, curiosas, perguntaram logo quem eram esses tais ajudantes. A vovó então explicou:
_ Ajudantes são outros visitantes que vão chegar na casinha feliz. Eles são muito diferentes dos amiguinhos, pois falam baixinho e só criam força se abraçarem um dos amiguinhos.

Lá vem o ajudante do papai (é o martelo do papai) fazendo seu barulhinho bem baixinho: p p p (não se ouve quase nada) até que ele encontra o a e dá um abraço bem forte:
...
E finalmente abraça o o:



A partir daí, cada ajudante será apresentado, tendo um formato e uma história própria, que ajuda a criança a se lembrar do seu som... o m é o ajudante da mamãe. O r é um ratinho, o c o "cocó"e o s um serpente...  São vendidos "fantoches"que correspondem a cada um deles e assim as crianças podem brincar fazendo seu som. Aqui em casa, meus filhos sempre corriam atrás de mim com eles, fazendo o som... sssssss para a serpente, rrrrrrr com o rato, por exemplo. Davam boas risadas e nunca mais esqueciam o som daquelas letras...


O melhor do método, na minha opinião, são as histórias inventadas para para apresentar as variantes de cada letra. (ex: para falar do Ç, a serpente morde o cocó...o cocó fica mudo de raiva e só a serpente faz o barulho...)

Assim, são trabalhadas as variações ortográficas, as sílabas complexas, a regra do m antes do p e b (o nenem morre de medo do martelo do papai e do barrigudo...aí chama a mamãe para ficar no lugar dele), assim como ch, lh, nh, sons do x, etc.


Bom...fica a dica... espero que seja um útil! Para quem quiser adquirir o material, aqui está o link para o site oficial sobre o método:

http://www.acasinhafeliz.com.br






sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Livros de palavras

Para começar, feliz 2013! Precisei dar um tempo nas postagens mas pensei em muita coisa que quero deixar registrada aqui. Como primeiro post do ano, resolvi falar dos livros de palavras.
Muita gente que ensina pelo método Doman ou outros métodos de alfabetização que envolvem flashcards e palavras inteiras deve ter notado que, em alguns momentos, a criança deixa de mostrar tanto interesse pelas fichas. Existem inúmeros motivos para que isso aconteça e várias formas de lidar com a situação, mas, na minha opinião, nenhuma delas é tão eficiente quanto à confeção de livros de palavras. Trata-se de uma forma de ensinar novas palavras e, ao mesmo tempo, ensinar vocabulário novo e conhecimentos gerais.
É só escolher 10 palavras de uma mesma categoria, imprimir em letra arial negrito tamanho entre 100 e 150. Depois colamos cada palavra em uma folha deixando o verso em branco. Na folha seguinte próxima colocamos a figura correspondente à palavra. A sequência é palavra-figura-palavra-figura-palavra-figura.
A idéia é simples, mas dá trabalho encontrar as imagens e é preciso ter uma impressora colorida para imprimir. Em compensação, é maravilhoso ver as crianças pedirem um livro atrás do outro e quererem ver cada um muitas e muitas vezes. Vou colocar aqui a foto de alguns dos livros que fiz. Infelizmente, não tenho mais os arquivos que usei para monta-los, mas vou fazendo outros e aos poucos vocês podem ir baixando.


Para as crianças maiores, dá para fazer livros menores e aproveitar o verso, como mostra a figura abaixo.



Livros de palavras-fase 1










Livros com pequenos textos(fase 5)