Depois de um looooongo inverno, estamos de volta. Estava sem tempo
de escrever, mas continuei lendo (e principalmente ouvindo audiobooks-já que
isso dá pra fazer no carro enquanto dirijo) muito sobre educação,
desenvolvimento neurológico e como as crianças aprendem. Descobri muita coisa
interessante que aos poucos irei compartilhar aqui, mas hoje escolhi um tema
que sempre me facinou: o desenvolvimento da fala nos primeiros anos de vida.
Basicamente, vou traduzir e resumir (e comentar-é claro!) o capítulo dez de um
livro chamado “Nurture Shock”de PO Bronson & Ashley MerryMan. Gostei do livro como um todo e depois
pretendo voltar e escrever sobre outros tópicos, mas resolve começar por este
por achar que é o que apresenta conhecimentos mais facilmente aplicáveis no dia
a dia das mamães. Espero que gostem.
Why Hannah Talks and Alyssa Doesn’t (Por que Hannah fala e Alyssa
não fala?)
Em novembro de 2007, várias revistas e reportagens na TV publicaram
uma notícia bombástica: crianças que assistiam os chamados “videos para
bebês”como baby eistein, bebê mais, etc, tinham um vocabulário
significativamente menor que o de bebês que não assistiam a esses videos.
É claro que a industria produtora desses videos, que na época
lucrava 4.8 bilhões de dólares anualmente, criticou a metodologia do estudo e
chamou os autores de irresponsáveis. Os pais, que haviam investido uma pequena
fortuna nesses DVDs, também se mostraram incredulous (inclusive eu, que já
havia comrade alguns para minha filha, então com 5 meses). Muitos acreditavam
que isso havia ocorrido porque os pais estavam usando a TV como babá electronica
quando precisavam cuidar dos afazeres domesticos. Isso realmente acontecia em
parte do tempo e nesse caso não havia muito o que fazer, mas a principal razão
pela qual as crianças assistiam a esses videos era porque os os pais achavam
que eles realmente trariam uma vantagem intellectual para seus filhos.
A equipe de pesquisadores convocou milhares de famílias e estudou
quanto tempo as crianças assitiam televisão por dia, assim como o tipo de
programa. Também aplicaram nas crianças um teste de vocabulário
internacionalmente aceito. É um teste que mede a quantidade de palavras que a
criança entende e, se ela tem idade o suficiente, a quantidade de palavras que
ela sabe falar. Analizando os dados, os pesquisadores observaram que havia uma
relação inversa entre o tempo de exposição à televisão e o vocabulário da
criança. Crianças que não assistiam TV sabiam em média 8 palavras a menos
(entre as 89 da lista). Pode parecer pouco, mas se considerarmos que uma
criança média de 11 meses sabe 16 palavras das 89, entender 6 a menos já fará
com que ela caia do percentile 50 para o 35.
No mesmo ano, outro estudo abalou o mundo dos DVDs para bebês. Estudos
feitos anteriormente haviam mostrado que os bebês nescem com a capacidade de
distinguir fonemas de todas as línguas e, se não são expostos a determinados
fonemas, vão perdendo essa capacidade. Baseado nesses estudos, os criadores do
baby Eistein resolveram criar videos onde mães de 7 nacionalidades diferentes
cantando canções de ninar e contando em sua língua mãe. Eles esperavam que
esses videos pudessem treinar o cérebro do bebê a reconhcer fonemas emu ma
grande variedade de idiomas, facilitando o aprendizado de línguas estrangeiras mais
tarde. O engraçado é que estudos feitos pela mesma pesquisadora que inspirou
esses DVDs ajudaram a explicar, mais tarde, por que esses DVDs não funcionavam.
A pesquisadora mostrou que o cérebro dos bebês não aprende a
reconhecer fonemas de outros idiomas em um gravador ou video. Ele aprende
apenas quando em contato com uma pessoa falando a língua. O cérebro dos bebês é
tão sensível à fala humana que a pesquisadora foi capaz de treinar bebês
Americanos para reconhecerem fonemas do Mandarim(que eles nunca haviam ouvido
antes) em apenas 12 sessões de 20 minutoscom seus alunos chineses, sendo elas 3
x por semana durante 4 semanas. Ao final de um mês, esses bebês eram tão bons
em reconhecer os fonemas do mandarim quanto às crianças nascidas na China e que
haviam ouvido mandarim por toda a vida. Mas quando a mesma pesquisadora colocou
bebês para ouvirem videos ou gravações em audio produzidas por chineses nativos
falando mandarim, o cérebro dos bebês não absorveu absolutamente nada. Isso
acontecia mesmo que parecesse que os bebês estavam concentrados e prestando
atenção ao video.
Então, por qual motivo um bebê precisa de uma pessoa falando ao vivo
para aprender uma língua? Por que eles não aprendem vendo TV? As evidências
sugerem que um dos fatores é que os DVDs infantis mostram vozes dizendo
palavras que não se relacionam à imagem. Isso pode ser um fator. Vários estudos
mostram que o bebê aprende muito mais vendo os lábios se mecherem que
simplesmente ouvindo a voz humana. Mas existe outro fator ainda mais importante:
os programas de TV não interagem com o bebê, respondendo aos sons que ele faz.
E por que isso é tão importante requer uma cuidadosa explicação.
Muitos pais já ouviram sobre a relação entre o número de palavras
ouvidas e o desenvolvimento do vocabulário do bebê e, assim, procuram converser
com o bebê o máximo possível (eu mesma fazia isso…ficava até rouca mas não
parava de descrever para meus filhos tudo em qualquer lugar! Rss…)Nos Estados
Unidos existe até um “verbal pedometer”, um aparelho do tamanho de um cellular
que pode ser colocado no bolso ou cadeirinha e mede o número de palavras
ouvidas por um bebê durante uma hora ou dia. Essas recomendações são baseadas
naquele estudo sobre o número de palavras ouvidas pela crianças de diversas
classes sociais e a relação desse número e seu vocabulário e desempenho escolar
no future (já citei esse estudo em um outro texto do blog).
O número, complexidade e variedade das palavras que uma criança ouve
certamente é um dos principais determinantes da aquisição da linguagem, mas
existem inúmeras outras variáveis que importam também. Mesmo crianças com
famílias de nível sócio econômico parecidos e que escutam aproximadamente o
mesmo número de palavras podem desenvolver a linguagem em tempos muito
diferentes. As pesquisas recentes mostram que o que mais faz diferença não é
apenas falar, falar e falar no ouvido da criança. O mais importante de tudo é que os pais observem o que vem do bebê e
respondam de acordo. Se você, assim como muitas mães, acha que o bebê não
está contribuindo para a conversa, você está perdendo algo muoto importante.
Dr. Catherine Tamis-LeMonda, da Univercidade de Nova York, passou a
última década observando a resposta dos pais aos seus filhos e o impacto dessa
resposta no desenvolvimento da linguagem. Eles acompanharam vários bebês e mães
e mediram vários parâmetros. mas o fator que mais teve relação com o
desenvolvimento da linguagem dos bebês foi a responsividade da mãe à eles. Os
bebês das mães que respondiam com mais frequência estavam em média seis meses
na frente. Dois prováveis mecanismos explicam esses resultados: primeiro, ao
ouvir a resposta da mãe o bebê entende que os sons que vêm de sua boca afetam
seus pais e ganham sua atenção. Entende que falar é importante. Em Segundo
lugar, se um bebê quer saber o nome de um objeto, esse nome deve ser ouvido
assim que o bebê olhar para ele.
Esses resultados foram confirmados por Michael Goldstein.(detalhes
no livro) Não vou entrar aqui nos detalhes da fonoaudiologia que descrevem os
diferentes tipos de vocalização e a evolução desses sons desde o nascimento até
que o bebê comece a falar, Em um estudo em que as mães foram observadas por 10
minutos e depois induzidas a responder a cada vocalização do bebê por mais 10
minutos. Nos primeiros 10 minutos, cada bebê vocalizou cerca de 25 vezes. Essa
taxa subiu para 55 vezes nos 10 minutos em que a mãe foi induzida a responder
às vocalizações. A complexidade e maturidade dos sons emitidos pelo bebê também
aumentou dramaticamente. A fala estava cerca de 5 meses mais madura na segunda
parte do experiment que na primeira. Além disso, as crianças mostraram uma
tendência a emitir com mais frequência o tipo de som que eles mais ouviram dos
pais.
A única recomendação é que essa responssividade não seja feita com
tanta intensidade o dia todo. O pesquisador tem medo de que um excess de
estímulos durante todo o dia possa fazer com que o bebê se acomode e deixe de
tentar evoluir a vocalização, atrasando o desenvolvimento.
Outro grande achado veio do pesquisador Dr. Jennifer Schwade.
Enquanto Goldstein é especialista no desenvolvimento da linguagem durante o
primeiro ano, Dr. Jennifer Schwade é especialista no desenvolvimento da
linguagem durante o Segundo ano de vida. , que é quando em geral uma criança
aprende suas primeiras 300 palavras. Uma das formas que os pais podem
enriquecer o vocabulário das crianças nessa fase é nomeando os objetos. Você
pode dizer: “Aqui está seu carrinho”,
“esta é uma flor” ou “Olhe a Lua”. Mas os bebês aprendem melhor quando os pais
esperam que o bebê naturalmente fixe os olhos naquele objeto e então falam o
nome dele. Os pais não precisam direcionar a atenção da criança. Nomear objetos
aos 9 meses tem uma forte correlação com o vocabulário da criança 6 meses mais
tarde. Outra coisa interessante é que até os 15 meses de idade, balancear o
objeto enquanto se diz o nome dele aumenta as chances de que a criança aprenda
aquela palavra. Interessante, né? Depois dos 15 meses, não é mais necessário
balancear o objeto. Nào que faça mal. Apenas não é necessário.
Outra coisa que aumenta as
chances de uma criança aprender uma nova palavra é ouvi-la de mais de uma
pessoa. ( Engraçado…sera que foi por isso que meus filhos aprenderam tão
rápido? Eu dividia com a babá todas as tarefas de estimulação…) Pesquisadores
da universidade de Iowa recentemente descobriram que crianças com idade média
de 14 meses geralmente não aprendiam uma palavra quando a ouviam apenas da boca
de uma pessoa, mesmo que a palavra fosse repetida muitas vezes. Quando a mesma
palavra foi pronunciada várias pessoas, as crianças imediatamente aprendiam.
Mesmo que as vozes variassem em sotaque e entonação. É como se ouvindo o que
era diferente, eles deduzissem o que era igual.
Outro dado interessante: as primeiras palavras que as crianças
aprendem são aquelas localizadas no final das sentenceas, pois elas a escutam
mais claramente. Nos estados unidos as crianças aprendem os substantivos
primeiro. Na Coreia, aprendem os verbos primeiro.
Outra coisa interessante para ensinar gramática é dizer a mesma
frase de forma diferente para que a criança possa deduzir as regras
gramaticais: “Raquel, traga o livro para o papai, entregue o livro a ele, Dê o
livro para o papai! Obrigada, Raquel, você deu (ou entregou) o livro para o seu
pai. “Quanto mais variação melhor.
Outra coisa que funciona é mostrar inúmeras figuras ou objetos
semelhantes, mas que diferem nos detalhes. Por exemplo: uma criança que sabe
que uma boneca tipo “bebê”é uma boneca pode ver uma Barbie e não reconhecer que
aquele objeto também é uma boneca. Se você mostrar várias bonecas tipo bebê,
várias Bárbies, Pollys, Moranguinhos, etc, ela vai entender intuitivamente
quais são as características necessárias para que um objeto se encaixe na
categoria “boneca”. O mesmo vale para os carrinhos, ursos, cachorros, etc.
Apenas cerca de 25% da aquisição da linguagem se deve a fatores
genéticos. E crianças que falam cedo tendem a ter um vocabulário maior por toda
a vida, mas isso pode mudra. Principalmente até o início do ensino fundamental,
muitas crianças conseguem recuperar o tempo perdido. Então…vamos ao trabalho!